quarta-feira, 27 de abril de 2011

If I'm lost please (don't) find me



               We don't sleep when the sun goes down.
                É engraçado como os anos passam.
                Tudo é reluzente como ouro, mas ainda não se aprende que as aparências enganam.
                As luzes coloridas piscam ritmicamente, o som ecoa alto. Não se pode ver a diferença no mar de rostos ao redor e as mãos continuam frenéticas por todo o corpo, o sangue pulsa alto o suor exala pelos poros.
                O mundo passa a ser um lugar melhor.
                É momentâneo, intenso, abrasador.
                Não é preciso rótulos, status social, raça ou opção sexual. É uma massa uniforme, se movendo junto, ao ritmo da musica que ecoa na alma.
                A noite fria acolhe os corações cansados e desesperados por alguma emoção. É preciso sentir. Sangrar. Correr. Deixar a adrenalina entorpecer os sentidos. O coração acelerar até explodir no peito.

                We don't waste no precious time.
                Não há relógios, não há compromissos.
                A fórmula mágica circula pelo sistema, agride a massa cinzenta, não te deixa pensar, paralisa o córtex.
                É um contato direto com a alma, olhando no fundo de suas vontades, ignorando o superego e chegando às profundidades do ID. É carnal, segue o instinto mais animal.
                Não tem sociedade. Não tem a fodida realidade. Não existe espaço nem limite de tempo. É só você. Só sua alegria. Seu profundo contentamento.

    All my friends in the loop, making up for teenage crime.
                Apazigua a secura com a água, morda seus lábios.
                Extravase tudo.
                A semana fodida que se passou, o pai desatento, a mãe alcoólatra, o chefe tarado pronto para te devorar, seus medos, suas inseguranças.
                Deixe que saia pelos poros, que refresque a consciência defeituosa, que desiniba a libido. Deixe que as roupas caiam assim como as memórias ruins, deixe que as amarguras se quebrem como as garrafas no chão.
                Não tente enxergar tabus, estes velhos conhecidos sempre te pressionam por coisas certas.
                Essa é a sua válvula de escape, seu poder.
                É você saindo do banco de passageiro e assumindo pela primeira vez a direção da sua vida.
                Mas infelizmente o passeio é curto.
                Tudo reluz por doze horas seguidas, mas não é ouro.
                É utopia.
                É ilusão.
                A noite aconchegante vai cedendo seu espaço para o dia repugnante.
                Verdades são expostas, tudo queima, tudo corrói.
                E assim que se acorda com a cabeça latejando e em um lugar derradeiramente estranho, a maldita existência efetiva vem arrombando a porta.
                O efeito passou, a dignidade acabou e agonia é cada vez mais aterrorizadora.
                Mas é tempo de acordar.

                Go, go away...
                – ainda é cedo demais pra acabar.
                – O efeito é curto linda, assim como tudo na vida, você não pode ter aquilo que quer sempre.
                Go, go away.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Desconstruindo

– Por que você tá chorando mãe?  
– Nada minha filha, é a vida.
A pequena garota abraçava sua mãe com ímpeto, ela era tão pequenina.
Tão frágil.
Mas não tão frágil quanto a sanidade de sua mãe, que aos prantos tentava acender um cigarro sem se dar conta que a pequena odiava-o.
– Odeio essa coisa – ela resmungou – Você ainda não me disse mãe, o que a vida te fez?
– Ela colocou essa coisa horrível que é o seu pai na minha frente, o ódio, a traição...
– Ai mãe, mais você disse que nos amava mais que tudo.
A mãe acariciou a cabeça revestida de cachos loiros da filha, a cara do pai endiabrado.
Ela era linda.
– Eu amo você mais que tudo nesse mundo, meu leãozinho – ela sorriu enquanto lágrimas caiam por todo o seu rosto borrado – Amo tanto você que se pudesse voltar no tempo, eu nem teria deixado você nascer.
– Mas mãe! – os pequenos olhos verdes encheram-se d’água.
– Eu te deixaria dentro de mim, onde eu posso cuidar e zelar por você – o rosto franzino beirava a insanidade – E não nesse mundo de merda, onde qualquer cara barbudo possa te tocar, quebrar teu coração, fazer você chorar.
Os pequeninos olhos verdes brilhavam ainda mais.
– Você não queria que eu nascesse? É isso mãe?
O verde jade encarava os castanhos derretidos procurando por compreensão, mas só achara o vazio.
– Quando você crescer meu bebê, você vai me entender. Você vai.
Os pequenos olhos verdes maduraram, aos poucos os cachos foram sumindo, o corpo aparecendo, a inocência esvaecendo. 
Passara sua adolescência em meio à rebeldia, entre traumas, palavrões, discórdia.
Não passava.
Seu longo cabelo loiro virou uma um reboliço laranja, suas roupas antes tão alinhadas e caras passaram agora para panos escuros.
A voz de sua mãe ecoava por sua cabeça.
Fechou-se de tal maneira que parecia ser irreversível, amadureceu tão cedo.
Mas as coisas não precisavam ser assim, não.
Ele veio com seus cabelos negros, sua pele pálida, seu sorriso tímido.
Doce. Ela o deixou entrar.
Despejou seus segredos, seus temores, sua vida.
 – Eu queria que tudo isso durasse mais – comentou melancólica.
– Mas vai durar – o rapaz lhe abraçou.
– Não vai – balançou a cabeça energicamente – Você vai me deixar assim como todo mundo, eu sou complicada demais. Estranha demais. Na verdade, se fosse por minha própria mãe eu nem teria nascido.
– Esqueça o passado e viva! Não se baseie nos erros dos seus pais amor e nem tente adivinhar o que vem pela frente porque o que for pra ser, vai ser.
Ele a deixou. É. No fim das contas não era para ser.
Enquanto ela tomava uma dose pura de Grey Goose e fumava os tão odiados cigarros, ela conseguiu ver sentido naquilo que sua mãe lhe falara.
E mais do que tudo no mundo desejou voltar à placenta. Para o único tipo de amor que não machuca.
O maternal.
– Eu amo você, mamãe.