terça-feira, 28 de dezembro de 2010

I believe


                Pare tudo o que está fazendo. É eu já entendi em parte esse teu jeito maluco.
                Você se denomina uma causa perdida, alguém sem salvação, mas me deixe falar algo: Eu sou como um imã para perigo.
                Sempre vejo algo de irresistível em uma causa perdida, algo pulsante, que me amedronta e excita ao mesmo tempo. Então como a boa impulsiva que eu sou, arrisco minha pele, caio de cabeça em seus jogos, adorando esse jeito rebelde e inconseqüente com que leva a vida, e por trás de cada olhar eu consigo entender.
                Você só quer carinho, só quer ser entendido e amado sem que tenham que te mudar. Vejo tantas cicatrizes por seu emocional abalado, tanta magoa em sua voz amargurada. E então acabo por me apaixonar ainda mais por seu lado frágil que raramente aparece.
                Sei que você insiste em dizer que nada pode te fazer mudar, mas nem eu quero que você mude, sou louca por cada uma das suas imperfeições, por seus sorrisos sacanas, por suas brincadeiras estúpidas, pelas marcas que deixa em meu corpo. Adoro cada pequeno detalhe que o forma.
                Rebelde, forte, corajoso, inteligente.  Sei que não se vê claramente, que só sabe ressaltar seus defeitos, mas te vejo de um jeito que ninguém conseguiu ainda enxergar e é isso que me faz dar meia volta quando você me manda embora, é isso que me faz engolir o orgulho e pedir desculpas quando cometo grosserias. É a luz que seus olhos emanam, as sensações que só você me proporcionou.
                Então eu lembro daquele dia fatídico, onde confissões e promessas foram trocadas, e você me deixou entrar em sua vida de uma vez por todas. E penetrar por todas as suas barreiras foi algo que só consegui com essa persistência e amor.
                Sei que não vamos ficar juntos por toda a vida, mas as memórias levo comigo. E sei que você sempre vai ser um dos capítulos mais marcantes das páginas da minha vida. E isso nunca, ninguém vai mudar.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Solitude


                Queria achar uma forma de transcrever toda essa tristeza em mim.
                Gostaria tanto de saber lidar com os sentimentos que crescem a todo instante, com as palavras, com as pessoas.
                Desde pequena tive medo da solidão. Mas o tempo foi passando e eu acabei por descobrir que ela residia em nós mesmos. Todo ser humano tem a solidão dentro de si, e acaba por fazer com ela o que se bem entende, tratando-a como amiga, como demônio pessoal, ou apenas como ela mesma.
                Precisei passar por algumas experiências – assim como todo mundo – para entender que para estar só, não precisa ficar trancafiado em um quarto, pode-se estar só rodeado de pessoas também. E eu me senti tão sozinha em tantas situações, como estar com alguém especial ao meu lado e me sentir perdida, ou estar com meus amigos em uma roda onde todos estão conversando, mas eu realmente não sei do que estão falando.
                E parece que essa solidão que outrora fora tão temida, mantém residência fixa em meu peito. Estou sempre à procura de algo, de alguém que possa preencher esse buraco que a solidão abriu, mas nunca encontro. Me sinto tão incompleta, já tentei me apegar em vícios imundos, já tentei esquecer, já tentei ignorar. Mas nada parece funcionar e isso dói no fundo da minha alma, é tão profundo, tão intenso.
                Parece que o bolo na garganta nunca vai ter um fim, e então eu tento escrever sem parar, tento colocar tudo isso para fora, como um pedido desesperado de socorro. E por trás de cada sorriso ou palavra existe um “Salve-me, por favor!” embutido. Mas quando eu olho ao meu redor e não vejo nada além de um quarto escuro, cigarros e uma xícara de cappuccino, a dor termina por me consumir.
                Então sinto preguiça, insônia, desconforto, agonia profunda, tudo ao mesmo tempo. E qualquer coisa parece doer, parece me corroer e estar a ponto de me matar. O pior acontece quando o meu olhar vazio cruza com o espelho e consigo ver que o que eu mais temia, aconteceu.
                A solidão já me tomou por inteira.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Nostalgie


                O que ainda me deixa mal é o fato de você estar em cada espaço existente em mim. Começa em minhas músicas, meu celular, meu quarto, a sala, até mesmo meu banheiro.
E quando eu me deparo aqui sentada acompanhada somente de uma xícara quente do seu cappuccino favorito, eu me pergunto pela enésima vez. Que merda eu fiz? Por que eu escolhi estar agora sozinha.
                Então na nobreza de sentir o pior dos sentimentos, eu me sinto encolher e as paredes parecem oprimir. Tudo por uma escolha errada, então sou abrigada a arcar com as conseqüências.
                E a vida muda quando você se depara sozinha, quando as amigas não conseguem suprir a necessidade que surge a cada instante, então o cappuccino esfria, junto com a cama, os braços e o coração quando o pensamento fica preso a cada segundo naquele sorriso, nas poucas palavras que eram ditas, mas suficientes para deixar uma noite inteira em claro.
                O drama é sentido na pele, o desejo também bate enloquecedor, e a vontade de ter seus braços ao meu redor é tanta que o coração entra em processo de combustão, e tudo que mais atormenta é o peso da sua escolha, o preço que se paga por mais uma vez agir pela razão e ignorar o coração.

Selfish, heartless, what a shame...


                Onde está aquele ódio abrasador que costumava nos consumir? Os palavrões, grosserias, aquele sentimento que era tão mais fácil de lidar.
                O que aconteceu com o “Eu odeio você”, “Você sabe que isso não significa nada” ou com o silêncio antes do encontrar dos lábios?
                Quando foi que você começou a ser altruísta e delicado, se importando tanto com os meus sentimentos? Me diga, por que eu me perdi em tudo isso, na sua confusão, e em algum lugar da sua bipolaridade.
                Como eu posso não me sentir uma insensível, com um coração de gelo, quando você age desse jeito? Não combina com você, contos de fadas não combinam com nós. E enquanto eu tento manter meus pés no chão, me convencendo de que tudo isso vai passar, que um belo dia eu vou acordar e tudo vai voltar ao normal, você está ai fazendo planos que eu sei que não vou participar.
                Nós não vamos nos casar, eu não vou ter filhos com você, e a nossa família não vai ser feliz. Por que isso é coisa de filme, isso não é o que eu quero pra mim, isso não vai fazer parte da minha realidade no fim das contas.
                Eu não sou cruel, a realidade é que é. Ela nos faz enfrentar todos os dias nossos demônios pessoais, nos faz egoísta em busca de um estado ilusório de felicidade, por que você sabe que mais cedo ou mais tarde nós dois vamos partir nossos corações e todo o ciclo vai recomeçar.
                Por isso eu preferiria odiar você. Por isso eu fujo tanto.
                Por que eu amo você.
                Tanto, que eu sou capaz de me afastar, só pra não ter o desprazer de te ver sofrer. Me chame de egoísta, ímbecil, sem coração. Fale que eu só estou afim de usar, que eu sou hipócrita, e que nunca dou valor no que eu tenho.
                É, eu sou tudo isso. Eu faço tudo isso. Tenho todos esses defeitos e mesmo assim você ainda está aqui, você me ama e a recíproca é verdadeira.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Le coeur brisé

                 “Ele te ama! Volte para ele Beatriz, ele não pode viver sem você.”  O fiel amigo do rapaz falava incessantemente.
                “Amor de vagina? Ele arranja outras.” Respondeu seca.
                Beatriz costumava ser uma garota incrivelmente doce e sua resposta brusca o fez estancar. Ela estava realmente mudada. Trocara suas roupas serenamente comportadas por saias e corpetes provocantes. Agora a ingênua beatriz bebia e fumava, além de adotar um vocabulário chulo e vil.
                “Deus! O que deu em você Beatriz? Não te reconheço mais.”
                “Não me reconheces mais Zé? É isto? Queres saber o porquê de eu ter me tornado o que me tornei? Aqui está sua resposta. Seu amigo acabara com todos meus sonhos. Ele tomou minha alma ao possuir minha virgindade Zé, e como o bom cretino filho de uma puta, ele zombou com todos meus sentimentos, tratando-me como um objeto. Um mero objeto de suas satisfações pessoais.”
                Ele piscou aturdido com a enxurrada de palavras a sua frente.
                Beatriz era uma boa garota, não merecia estar passando por tal tormenta, mas alguém tinha que trazê-la para a realidade e esta era que corações partidos estavam postados em cada canto da pequenina cidade, mas mesmo assim eles não precisavam mudar sua essência, aquilo que os mantém.
                “Detesto ter que ser duro com você, mas não foste a primeira a ter o coração destroçado por um homem, isto acontece a toda hora, vocês do sexo frágil -“
                “Sexo frágil?” Ela o interrompeu com uma gargalhada, e passou sua língua por seus lábios enquanto ajeitava seu espartilho negro e sua calça justa “Você vê algo frágil aqui Zé? Eu sou uma mulher. Eu sou capaz de carregar um filho por nove meses e é de mim que parte o milagre da vida, sou capaz de enfeitiçar um homem com minhas curvas e fazê-lo dar tantas voltas até que fique ensandecido por mim. Eu posso ser um anjo e também um demônio Zé. Então não diga que pertenço ao sexo frágil, porque não o faço. Não sou como uma donzela em perigo que precisa um homem para dar sentido a sua vida.”
                “Você quer dizer então que podes seguir sozinha? E o tal prazer?” ele fechou seus olhos em fendas.
                “Satisfaço-me até com meus próprios dedos e tenho orgasmos inimagináveis Zé. “ Ela soltou acidamente mexendo com os nervos do pobre rapaz.
                Aquela não era mais a doce Beatriz, a pequena amada de seu amigo havia se convertido de um doce anjo á um demônio.
                “Levas um recado até ele meu doce Zé” Ela sentou-se em seu colo “Digas que assim que ele parar de agir como um maricas apaixonado, pode me procurar. Serei sua mais perfeita amante e darei a ele o aconchego do meu seio.”
                O homem sentira um arrepio profundo com tais palavras, e seus olhos dançavam pelas curvas deliciosas que a pequena Beatriz possuía.
                “Darei o recado” Falou extasiado.
                Ela sorriu e se levantou, bateu seus saltos altos no assoalho de seu quarto e estalou seus lábios.
                “Até mais doce Zé e apareça por aqui mais vezes, sinto que preciso modificar meus hábitos às vezes, brincar apenas com meus dedos é bom, mas ter alguém que me acompanhe também é satisfatório.”
                O rapaz mais uma vez assustado arregalou seus olhos ao fitar o sorriso malicioso que dançava pelos lábios de carmim. Chacoalhou a cabeça ao passar pela porta e pensou em tudo que havia ouvido ali dentro.
                Chegou à conclusão que o que seu amigo fez foi fatal.
                Porque em toda mulher havia dois lados, um angelical e frágil que se equilibrara com um demoniacamente belo. E assim que o lado frágil se parte em cacos, só sobrava à impertinente malicia, que destruía aos poucos a essência enquanto impetuosamente alimenta o orgulho e egoísmo. E uma mulher ferida era capaz de tudo.
                Beatriz era a prova viva do que a desilusão poderia fazer.
                Sim, ela podia despertar o que havia de pior em um ser humano.
                E acabar com seus sonhos para sempre.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

I hate you



                “Você. Não. Vai. Me. Deixar.” Ele falou pausadamente.
                Ela suspirou enquanto encarava seu carma. Sim. Ele virara um carma deliciosamente constante em sua vida, um do qual secretamente não conseguiria largar, mas se via encurralada por todos os lados.
                Ele tinha namorada.
                “Era só uma transa, você não tem o direito de me cobrar algo a mais.” Ralhou ela.
                Segurar suas lágrimas era algo que ela havia aprendido há tempos. Sabia que aquela era a parte dolorosa, a batalha de egos que assombrava os dois.
                Um casal de amantes atípicos que engoliam seus orgulhos em busca do prazer da dor e do amor.  Ele sabia que estava atado àquela maldita feiticeira de olhos cor de mel, maldita garota que com seu jeito doce lhe enlouquecia, o fazia agir por impulso, perder todo o controle e sanidade. Parecia agir como um maldito coelho ao ver suas curvas, só pensava em seu delicioso corpo desnudo, sua pele branca e macia parecia um convite eterno ao prazer, e ele sentia que podia se afogar em meio aqueles sucos e cheiros que somente ela poderia proporcionar.
                “Você é um bastardo egoísta!” Alterou-se ao vê-lo acender seu marlboro “E além do sexo meia-boca, não quero ficar agüentando esses seus malditos dramas! Nós dois só queremos a droga do prazer não é mesmo? Então, você já conseguiu! Agora FORA!”
                Ele a observava em silêncio, seus olhos percorreram toda a extensão do seu corpo desnudo, ela era tão fodidamente doce e bonita. Se não fosse o seu orgulho inumanamente gigante, eles estariam juntos. O rapaz a queria com toda a força de seu ser, e a faria entender isto. Por bem ou por mal.
                “Eu não vou a lugar nenhum, ainda não tive o bastante de você.” Ele sabia que estava agindo como um completo canalha, um bastardo egoísta, como ela mesma ressaltara. Mas precisava retirar a máscara de indiferença que lhe cobria a face, não suportava a frieza vinda de seu pequeno vulcão, sua doce e indomável menina.
                “Fique longe de mim!” Berrara a sentir as mãos do rapaz em sua cintura nua “Eu não quero transar com você, EU TE ODEIO!” Ela recuara até encostar-se na parede de seu quarto.
                “Eu não acredito em você” Ele observava sua respiração alterar, suas narinas inflaram e sua pele ficou com um tom rubro delicioso. Ela era fodidamente encantadora. Tão linda. Tão apetitosa. Tão sua.
                Ela podia sentir todo o seu peito musculoso colado ao seu abdômen, e sabia que derreteria as suas vontades, seu coração já estava à mercê dele, assim como seu corpo era escravo de seus toques.
                “Eu te odeio” Sussurrou enquanto sentia suas excitações se tocarem “Seu desgraçado, eu te odeio” O corpo da garota parecia implorar pelo dele, contradizendo todas suas palavras, ela precisava dele, como um viciado precisava de sua droga.
                “Você é minha” ele apalpou a garota com força “Está vendo como sua pele se arrepia? Como todo o seu corpo se estremece quando eu te toco? É por que você me pertence.” Tocou-a intimamente e um som claro e lânguido de prazer rompeu pela garganta da garota “Sempre pronta pra mim.”
                Ela avançara a sua boca enquanto repetiam os movimentos tão velhos quanto o mundo, a garota percebeu que não poderia deixá-lo ir. Percebeu enquanto seus corpos se encaixavam, que ele era seu dono, dono de seu coração e alma. Que a dependência que havia criado ultrapassara as barreiras físicas, chegando ao espiritual. Eles se completavam.
                E cada palavra de ódio soava como uma maldita declaração de amor deturpada, a cada toque eles podiam sentir o sentimento doentio crescer e tomar conta de seus corpos que se debatiam enquanto a realidade os atingiam como um soco no estômago.
                Ela o amava. Ele a amava. E a realidade fodida era que não havia para onde correr. Não havia como negar.
                O amor estava ali.  

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Hopes for changes


                Tento escrever sobre a espera.
                Mas por mais que busque significados para ela, eu não consigo entender.
                Creio que ninguém mais consiga.
                Passa-se a vida toda a espera das coisas, esperamos que venha alguém e nos faça feliz, esperamos ter filhos, esperamos encontrar a felicidade, esperamos passar na faculdade, ter um bom emprego, amigos legais, e sair aos sábados. Esperamos ter uma vida normal, esperamos que a tristeza passe, que os anos se arrastem, que vida acabe.
                São tantas esperanças infindáveis acompanhadas de doses extremas de agonias, é tudo tão subjetivo, tão cruel e maldoso. Mas o ser humano precisa dessas esperanças, mesmo que falsas nós precisamos de sonhos, precisamos ter uma certeza errônea de que há algo além da podridão da realidade.
                Nós caímos na mesmice das coisas, na fadiga da rotina, na tragédia do cotidiano. E sangra-se por dentro cada vez que depara-se com um espelho, com a decepção de não ter alcançado nada além de dias vazios e solitários. Mas se acostuma fácil, e muitas vezes prefere-se fechar os olhos a lutar contra isso.
                É assim que vejo a espera e a esperança, como um veneno corrosivo, que vai destruindo por partes sonhos e corações, começa pelas bordas da sanidade, despejando toda a acidez da agonia, e deixando-o lá para manter a ferida aberta. É sempre a ultima a morrer, pois mata todos antes de dar um tiro em sua própria cabeça.
                Tudo isso é malditamente doloroso e sem porquês, apenas se sente, sem explicação, você sente a dor consumir e atingir patamares inatingíveis, e mesmo assim no fundo do coração hipoteticamente dilacerado e esmagado você guarda esperança.
                E ainda dizem que o ser humano é pessimista.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Waiting for the end

Eu poderia esperar.
E eu poderia partir.
Mas a cada dia que passa e eu não vejo você, a dor me consome. O meu eu fatigado, a minha impaciência sem limites, a minha agonia de te querer pra ontem, me faz repensar.
Eu não posso perder meu ritmo, eu não posso abandonar meu jeito, eu não posso funcionar assim. Os dias não podem perder o sentido, as horas não podem demorar a passar, meu melhor amigo não pode ser o álcool, meus pulmões não podem mais se acalmar com a maldita nicotina que eu costumava dividir com você.
Tudo isso tinha sentido, tudo isso tinha um propósito quando eu tinha você do meu lado.
Mas você não está aqui.
E me mata aos poucos te ver em cada rosto na rua, colégio, casa, lojas e bares. A minha angústia aumenta quando eu sei que você não está em nenhum desses lugares, e enquanto deveria estar lá fora, conhecendo gente nova, curtindo uma boa musica com pessoas legais, dando risadas e fazendo besteiras, eu estou aqui.
Esperando por você.

Such a mess

Explosiva. Inflamável. Caótica.
Um pouco de impaciência e também intensidade.
Idiota, orgulhosa, ruim, rancorosa.
Vaidosa, insegura, tímida, medrosa.
Impulsiva, raivosa, bagunçada.
Do eu pavoroso, das manhãs perdidas, do orgulho no ralo. Do passado negro, do presente odioso, do futuro incerto.
Pelas horas que se arrastam, pelos minutos que queimam e os segundos que perfuram.
Por toda busca incansável, por todo sexo sem compromisso, por todo álcool nas veias e nicotina nos pulmões.
Por nossa juventude perdida, por amores ilusórios, por promessas quebradas.
Por você, e também por mim.

Somebody here for you


                Era uma madrugada fria em uma cidade ordinariamente média, tudo parecia ser comum e terrivelmente chato para duas pessoas que dividiam uma amizade puramente fiel.
                A garota tinha um jeito de andar estranho, que estava acompanhado sempre com seus calçados reluzentes e camisas xadrez. Assim como o cara ao seu lado, eles compartilhavam sonhos enquanto bebiam algum vinho tenramente vagabundo.
                Eles caminhavam com seus cigarros a postos, a bebida forte em uma sacola fétida de papelão, aproximavam-se da antiga estação ferroviária de sua cidade, habitada por nada além de ratos e outros animais que se desconhecem a origem. Ele sabia que qualquer outra garota jamais pisaria ali sem dar chiliques e sair correndo ao som do primeiro ruído, mas ela não era qualquer uma. Era a sua garota.
                “Nós já temos dezessete baby” Ela tomou a sacola de sua mão e deu gole generoso da bebida “E em breve estaremos livres para abraçar o mundo! Isso não é fantástico?”
                Ele riu enquanto observava os cabelos naturalmente ruivos da garota, seu rosto parecia pertencer a uma menina de quatorze anos, enquanto que seu corpo desenvolvia curvas apropriadas para idade, se eles não se conhecessem há tanto tempo e não fossem como irmãos, ele até poderia desejá-la.
                “Abraçar o mundo, hun? Não acha melhor começar com o país? Ou um estado quem sabe?” Ele tragou seu cigarro mentolado.
                Ela se virou e postou-se a observar seu fiel escudeiro.
                Era assim que ela costumava pensar. Os dois eram uma dupla imbatível, compartilhavam das mesmas vontades e sonhos, os mesmos gostos, a mesma sede de liberdade e apetite por destruição.
                “Não, eu quero tudo!” Sentia-se eufórica “Quero viajar, completar meu corpo com outras tatuagens, quero conhecer o prazer sem me importar com toda essa merda de status, quero ser livre para voar, voar tão longe quanto eu alcançar. É isto baby, eu quero viver! VIVER!”
                Eles já haviam devorado a pobre e medonha garrafa de álcool, então o garoto atribuía tais palavras de sua garota, como tendo o álcool por responsável, mas ele não se importava, sabia que era isso mesmo que iriam fazer, uma viagem para vida.
                Live fast and die young?Ele balançou suas sobrancelhas sugestivamente.
                “Do melhor jeito!” ela se equilibrava precariamente sob os trilhos enquanto ia sentar ao lado de seu garoto “Você vai comigo, não vai?”
                Entrelaçaram suas mãos e ela pode ver as mesmas tatuagens que compartilhavam em seus pulsos, um símbolo do infinito. Eles haviam escolhido juntos, simbolizava a amizade deles, e ela sabia que um dia iam se separar era inevitável, mas enquanto ela existisse o infinito estaria em seu pulso e viveria dentro de seu coração.
                “Sabe que daqui nós vemos o nascer do sol mais lindo de todo o mundo, não sabe?” Ele mudou de assunto “Apesar desses montes de ferros inúteis, do lugar sujo, mal acabado e abandonado, nós conseguimos ver algo fodidamente bonito, o milagre da luz, o sol que nasce para mais um dia fodido e sabe o que eu quero dizer com essa porra toda?”
                “Sinceramente? Acho que você bebeu demais.” Ela sorriu e apertou sua mão.
                “Não, o que eu quero dizer é que se alguém olhar pra gente, debaixo de toda essa pele tatuada, cabelos coloridos e atitudes imprudentes, vai achar algo maravilhoso, algo cru e tão belo quanto um nascer do sol, nós só precisamos de atenção, assim como esse lugar precisa de uma bela reforma. O problema não está na cidade em que vivemos, está em nós, naqueles que nos rodeiam e que forçaram a gente a achar um meio errado de se expressar. Mais aqui dentro” Ele bateu em seu peito “Aqui existe um nascer do sol lindo B., e eu estou pronto pra mostrar para o mundo.”
                “Dentro de nós dois baby” ela sorriu enquanto via o sol nascer “E de cada um que se atreve a viver e não só existir.”
                Ele fitou a garota linda ao seu lado e pode ver o seu reflexo nos maravilhosos olhos verdes, sabia que aquela era a garota mais doce e corajosa que conhecia, abraçou-a carinhosamente e sussurrou em seu ouvido. “E eu sempre vou estar lá por você, não importa o quê, você sempre vai ter alguém aqui por você.”.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Youth


                Eu gosto de pensar que sempre vou me deparar com uma estranha no espelho.
                É uma estranha, eu gosto de descobrir minhas várias faces, meus vários jeitos, minha inconstância, a luz um tanto apagada em meus olhos, meu cabelo de cor diferente, sentimentos contraditórios, transição.
                Sinto-me tão bem com isto, com essa facilidade de se adaptar as minhas próprias mudanças.
                É como misturar minha música clássica preferida com aquele hardcore que eu ouço enquanto corro na academia, tenho extremos dentro de mim, abismos feitos de emoções que nem eu mesma consigo distinguir, sei que essa inconstância não é vista como virtude para muitos.
                Mas acho que não sou do tipo que se encaixa nessa categoria.
                Ainda sou jovem e as espinhas em meu rosto não me deixam negar, mas as experiências que obtive me tornaram o que sou, essa multidão incômoda de sensações que se alastram no meu peito, me ajudou na construção de meu caráter.
                Sim, sou jovem mais sei muito bem o que eu quero.
                Posso ainda estar um pouco perdida em meus caminhos, com más companhias e problemas a vista, mas isso é ser jovem, não é? Se descobrir, errar, aprender e errar de novo.
                Nós temos tempo para corrigir tudo isso, temos tempo para voltar, se arrepender, recomeçar.
                Ainda acho que cada manhã é um recomeço, uma nova chance de abrir os olhos e decidir qual será o rumo da sua vida, o que você fará para mudar, como irá perseguir seus sonhos... Para mim tudo se resume nisso.
                Na disparidade, no amor, na saudade, na nostalgia, na esperança, na vida.
                Estamos vivos e isso é tudo que importa, buscando por mudança, por renovação, por que juventude e vitalidade estão além da carne e sim no espírito, na essência.
                 E enquanto se tem isso, se tem tudo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Soulmates never die


                Ela era só mais uma garota ordinária, comum, sem atrativos tão especiais assim.
                Cabelos não tão curtos, com uma cor a cada dia, o corpo não tão esguio assim, os olhos ligeiramente claros, se vestia bem até, colocava o que achava confortável, sem seguir um padrão ou modelos de alguma revista.
                A garota era tímida, mas quando lhe digo tímida, é na essência da palavra mesmo, daquelas que gaguejam, trocam palavras, tropeçam, e preferem perder um dedo a se expor publicamente. Ela passava seu tempo com livros, como sua própria mãe relatava, ela deixava de comer para ler, de sair com os amigos, de estudar, e quando mergulhava em seu mundo colorido, ria em meio às páginas de seu romance preferido, chorava com o mocinho injustiçado, temia o vilão, e sentia o coração bater mais forte quando tudo parecia dar errado.
                Ela era uma jovem atípica, na verdade, tinha um coração e uma imaginação de ouro. Mas não tinha uma vida. É, uma vida sabe? Ela não ia às boates do momento, não escutava as batidas da moda, nem gostava de cantores pops famosos.
                Sua vida, vista de fora parecia um tédio só. Poucos amigos, um ex namorado desprovido de inteligência, uma família conturbada, e crises de adolescente.
                E em uma dessas tardes melancólicas onde a garota caminhava com passos preguiçosos, sentindo a areia por entre seus dedos, e a maresia por seus cabelos, foi quando ela o viu.
                Até hoje a tímida garota lembra, que escutava Oasis no ultimo volume, quando o viu sentado com mais dois rapazes em um daqueles bancos de pedra, e por todo um minuto eles se olharam, e enquanto Live Forever tocava incessantemente o garoto sorriu.
                Envergonhada, ela só desviou o olhar e sentiu suas bochechas esquentarem, alisou seu camisete xadrez nervosamente e passou a mão por seus cabelos uma ou duas vezes enquanto seguia em frente.
                Ela nem notara os outros dois ao seu lado, só quando um gritou seu nome, e por cima da melodia romântica ela virou e viu que o garoto estava acompanhado de seu conhecido, então seguiu até o banco, agora com passos mais ligeiros, sem olhá-lo, cumprimentou o amigo, que com um sorriso malicioso no rosto os apresentou.
                E com um roçar de lábios na bochecha ela pode sentir todo seu corpo arrepiar, e uma voz firme, porém macia se pronunciar por entre seus lábios rosados, ela estava hipnotizada.
                Os olhos castanhos brilharam junto aos verdes, e por um segundo os dois sentiram tudo sumir.
                Eles não sabiam,mas aquele era o tipo de sentimento que só sente uma vez na vida, que poucos tem a sorte de conhecer, de viver toda a magia que é proporcionada, de se entregar de corpo e alma.
                Por que é tão simples, em uma tarde banal como todas as outras, com milhões de almas vivas vagando, duas se conectarem perfeitamente. Por que não foi o amigo o responsável por tal união, nem a mãe da garota que lhe mandara comprar pães, foi algo maior, uma força maior que ambos acreditavam que pode unir todas as coisas existentes.
                E se não fosse ali, naquela tarde comum do ano de 2009, seria mais a frente, dali a um mês ou duas semanas.
                Por que mesmo que fosse uma multidão, duas almas quando são gêmeas se reconhecem de imediato.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

I'm letting this go

         Não sei onde eu falhei, ou que palavra não lhe disse.
                Certamente, deve ter sido aqueles dias em que eu achava que o silêncio era a melhor alternativa, ou quando eu simplesmente não sabia o que falar pra aplacar a tensão do momento.
                Será que foi ali que eu falhei?
                Lembra dos tão falados olhos azuis? São lindos sim, maravilhosos! Mas nenhuma cor pode substituir o brilho dos olhos castanhos que tanto me encantaram desde a primeira vez que eu os vi, a vivacidade, a energia boa que emana a cada olhar, nada substitui isso. Que fique claro a cada palavra que flui por meus pensamentos, nada substitui a magia que eu só encontro em um certo par de olhos perfeitamente castanhos.
                E se a minha memória não falha – tenho certeza que não irá – Também tinha a questão dos cabelos loiros, meio cacheados, e toda aquela coisa de ser surfista, certo? Bom, deixa eu contar um segredo... Isso não me encanta nenhum pouquinho. Verdade, eu prefiro aqueles cabelos quase pretos, o corpo esguio, sim, eu prefiro aquele conjunto de rapaz frágil que dá vontade de colocar no colo e encher de beijinhos.
                Gosto da fala mansa no pé do ouvido, do sotaque estranho, da mão lisa, dos beijos calmos, mesmo me contradizendo, eu gosto quando sorrateiramente me assusta ou tira fotos minhas distraídas de “recordação”.
                Tenho tanta afeição pelo modo como fica bravo quando eu finjo que não estou ligando, ou quando sorri como uma criança em pleno natal por eu estar fazendo algo que goste contra minha vontade. 
                Sei que é como dar voltas em círculos, sei também que nada mudará o que você ou eu fizemos e todas as palavras que foram ditas em momentos impróprios.
                Bom, aqui estou eu pontuando de novo os detalhes a que me atenho tão fortemente, sabendo que eu nunca vou poder voltar no passado e mudar aquele dia, mudar minhas palavras, mas eu tento só colocar pra fora tudo o que eu sinto.
                E como estava escrito em uma mensagem da sorte que eu tirei hoje: “Evite se apegar demais às pessoas e deixe que elas sigam seu caminho quando for necessário.”  é essa minha decisão, mesmo que me machuque profundamente, que eu sangre por tempo indeterminado, eu estou deixando esse sentimento ir.
                Seguindo meu caminho, me desprendendo desse passado doloroso, de tudo que me faz bem e mal ao mesmo tempo.
                Deixando que o par de olhos castanhos mágicos ilumine outra pessoa, que os cabelos quase-negros e macios percorram outras mãos, que o corpo esguio se una a outros corpos. Eu estou deixando tudo isso.
                Não por fraqueza, não por falta de amor, por orgulho ou qualquer outra coisa. Mais sim por estar cansada demais pra lutar contra isso, eu, ariana, persistente que sempre persegue o que quer, está desistindo.
                Desistindo por não ter mais condição alguma de lutar.

hey stranger

                Quem é você?
                É sério, por que me faz sentir uma coisa estranha a cada vez que eu viro e vejo os seus olhos fixos em mim? É tão cheio de... mistérios.
                Isso me deixa nervosa, e me faz querer desviar o olhar com timidez, e é o que eu faço na maioria das vezes. Olho para meus pés, para a parede, para o cara ao seu lado.                 
                É tão estranho! Ou sou eu que sou estranha e vejo coisas? Céus, por que eu penso nisso com essa freqüência absurda enquanto tem essa montanha de coisas acontecendo ao mesmo tempo em minha vida?
                São tantas perguntas que rondam a minha mente, e mais uma vez os olhos estão lá. Meu deus, é tão desconcertante não querer desviar o olhar, isso pode significar algo? Ou é só uma passada de olhos rotineira que por um acaso me encontrou? É sério, gostaria que seus olhos pudessem responder uma ou duas perguntas dessas.
                Então é apenas mais um dia entediante e de algum jeito eu viro meu rosto e está lá de novo, é tão... Espontâneo. Tão sem nome.
                E um sorriso estranho aparece em meu rosto sem eu saber o porquê. Talvez seja só uma paranóia minha, certo? É só mais uma coisa estranha vindo de uma garota mais estranha ainda. Não comento com ninguém, nem tento descobrir nada.
                Quem sabe é só por que o achei parecido demais com um cara que já foi importante pra mim no passado. Ou talvez eu só deva parar de escrever isso aqui. Apagar esse texto estranho. E seguir com todos os olhares-mistérios.
                Mas... será que os olhos – vulgas janelas da alma – não poderiam me responder algumas perguntas?
                De onde vem você? O que será que tudo isso significa? Ou será que isso importa mesmo?
                Esquece, acho melhor mesmo é deletar esse texto antes que eu enlouqueça um pouco mais, sim, certamente não se pode conversar com um par de olhos bonitos, e muito menos manter essas perguntas tolas em mente.
                Principalmente agora, que se foram.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sunlight

(09/05/2010)

                Saudade é um sentimento tão complexo.
                Ela me consome, às vezes parece que está a ponto de me destruir.
                Mas então memórias de nós dois me invadem, e eu relembro cada sorriso, cada detalhe, cada pequena imperfeição que meus olhos eram capazes de captar.
                O modo como seus lábios lentamente se entortavam em um sorriso malicioso quando estava tentando me irritar, o timbre da voz que atingia tons tão macios quando cantava pra mim, o jeito que suas íris brilhavam quando algo saia exatamente do jeito que queria, a expressão séria e triste que durava segundos quando estava ao meu lado, o cheiro acentuado bem na curva onde o pescoço se encontra com ombro que era uma espécie de calmante pra mim.
                Me prendo a tantos detalhes, que faziam de você a pessoa mais perfeita do meu universo imperfeito, achava que nós éramos partes de algo maior, conseguia quase ver como seria o futuro ao seu lado.
                Mas me encontro aqui, sentada nesse espaço gelado que um dia já fora um ninho de nós dois, segurando uma xícara de café, ouvindo as suas musicas preferidas, e sentindo uma imensa falta de tudo que eu vivi.
                Queria ter a coragem de ir até você, cobrar tudo que prometeu. Já que cada promessa feita é uma dívida, gostaria de ir cobrar todos os sorrisos que por direito são meus, todos os beijos, cada toque, cada palavra.
                E novamente, eu não faço. Apenas observo você seguir adiante, disparando novos sorrisos, novas esperanças, recomeçando do ponto de onde parou, observo sua caminhada em busca da sua felicidade e me contento com isso.
                Continuo respirando, comendo, dormindo, andando, vivendo. E principalmente vendo minha felicidade em forma humana caminhando todos os dias, passando por mim com seus passos lentos e tortuosos, com a mesma expressão juvenil que fora alvo de meus sonhos, com o mesmo cheiro característico e olhar intenso.
                Deixo minha luz ir com você, deixo minhas promessas quebradas te seguirem, e meu coração decorar seus rastros, e meus olhos perseguirem os seus, até o momento em que desaparece de meu campo de visão, e tudo escurece. Me questiono o por que de não tomar nenhuma atitude, de ser tão passiva e infeliz, mas nada me vem.
                Sigo então vendo minha felicidade escapar cada dia mais um pouco por entre meus dedos, que ansiosos ainda esperam os seus.
                Assim como meu coração tem ânsia de ti. Mas sabe que nunca se saciará.
                A saudade continua, por que para alguém ordinário como eu que conheceu um pedaço do céu que chama-se amor, nunca será o bastante. E entre tentar controlar este misto indomável em mim e aplacar a dor eu vou vivendo. Apenas existindo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Beautiful lie

                A minha verdade é poluída.
                A distorção dos fatos faz parte do meu cotidiano e eu tento na maioria das vezes transcrever isso, formar conjuntos de palavras, que expressão o que eu sinto, a confusão dentro de mim.
                E como diria a minha mãe, 80% disso tudo é drama.
                Mas na realidade é isso que eu sou, um drama, em partes comédias e um pouco de terror também.
                Eu não me importo, na verdade até gosto um pouco disso em mim, de uma hora me sentir extremamente vazia e na outra completa e amada. Ter esse jeito “avoado” e até falar coisa demais e em seguida ficar completamente vermelha e tímida por falar com alguém especial.  Tenho afeição por esses extremos em mim, e acredito que isso me ajuda a manter a sanidade, a driblar as tantas pessoas ordinárias que aparecem em minha vida, e ser feliz do meu jeito.
                Gosto de sorrir enquanto lágrimas caem de meus olhos, de ter a capacidade de ser oito ou oitenta, de ter determinação por meus objetivos, e mudar tudo do dia para a noite.
                Podem falar e eu não ligo, é, não vou tirar satisfações por ouvir meia dúzia de palavras infames que sei que não é verdade, aprendi a conviver com pessoas pretensiosas, é algo que você tem que se acostumar ao longo da vida. Só por isso deixo tantos elogios passarem.
                Ainda assim acredito em mim e nas pessoas a minha volta, adoro sorrir, brincar e conversar com os outros sem malicia alguma, ou ter aquela conversa sacana que nunca se sabe onde vai chegar. Me chamam de bipolar, até as vezes me intitulo como uma, mas a questão é que ainda que possa ter várias faces, eu tenho um só coração atado a sinceridade e a mais ínfima das verdades.
                Um coração grande por sinal, onde carrego tudo que me faz a diferença.
                Por que essa é minha grande verdade, meu cérebro é apenas meu filtro, onde processo o que de bom as pessoas me falam ou fazem e deixo que chegue até meu coração, e o resto apenas descarto.
                Então ainda que chamem de impulsiva, errônea ou imatura, faço aquilo que meu coração manda, sigo-o pois é ele que mantém o sangue em minhas veias e a vida em meus olhos, e por mais que eu cresça e me atenha a novas responsabilidades vou sempre tentar manter a essência do meu coração de criança, onde a sinceridade dos meus sentimentos virão em primeiro lugar.
                Pois ainda prefiro viver uma verdade sofrida, do que uma bela mentira.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Emptyness is all I got

                Então vamos falar de amor, de sacrifícios, de tortura.
                Vamos prosear sobre sofrimento, agonia, dor, saudade, mutilação.
                O começo do fim se deu com minhas palavras frias: “Preciso falar com você.”
                Então há dois corpos em um mesmo espaço, contradizendo as leis da física que eu tanto odeio, você está em mim, em tudo, nos cheiros, nas roupas, entranhado na minha pele, nos meu cabelos, nos meus lábios, eu posso sentir o gosto, o sangue, as batidas de seu coração descompassado.
                Então minha cabeça está repousada perto de seu coração, penso sobre o mês frio que passei e não consigo sorrir.
                Crio argumentos contra meus próprios sentimentos, aperto meus braços ao seu redor, mas não consigo sentir a felicidade me invadir, não consigo sentir a satisfação que outrora fora tão sufocante, tudo que eu sinto é frio, o frio de outubro ainda reside em mim, na minha pele misturado com seu cheiro, passando como gelo em minhas veias, trazendo a hipotermia para o meu coração fraco, deixando as cristas passearem por meus pulmões poluídos.
                Sinto-me pequena, sinto cada átomo do meu corpo congelar, posso ainda sentir as agulhas perfurarem meu peito com força, fazendo o choro sair sufocado, e meus olhos permanecem abertos por toda a maldita noite.
                Pensei que poderia finalmente dormir quando eu soubesse que você havia chego, mas não o frio de meu corpo só aumentou tudo só piorou, e para o meu desespero você parece não se tocar um segundo sequer, minhas lágrimas são compulsivas, meus dutos lacrimais só despejam toda a dor que tem aqui, e eu não sei o porquê disso tudo.
                Não, eu não sei por que me sinto assim, por que todos os toques perderam a sua magnitude, por que eu não consigo mais proferir palavras carinhosas sem que soem falsas, eu traio a mim mesma, ao meu coração que gela um pouco mais com cada atitude ridícula minha.
                Inconsciente de tudo, você sorri e surpreendentemente eu não consigo sorrir de volta.
                Pela manhã, eu me sinto tão suja, tão ignorada que eu só quero me dobrar em mil pedaços e sumir. Busco sabedoria, busco conselhos em minhas amigas, em meu espelho, mas todos só apontam-me o quanto sou ingrata e miserável, o quanto deixo a confusão dentro de mim afetar a todos que estão a minha volta.
                Então eu choro por horas seguidas, eu deixo a almofada entre meus dentes enquanto os grunhidos de dor escapam por minha garganta e quando minhas lágrimas se acabam eu levanto, lavo meus olhos e tomo a decisão de magoar a única pessoa que realmente se importou comigo.
                Digo não, digo que não dá, falo que preciso de um tempo para encontrar a mim mesma, ouço seus insultos sem revidar, aceito a culpa.
                Volto ao começo, sento-me catatônica em minha cama, olho ao redor sem realmente enxergar nada e me pergunto repetidamente: “Que merda eu fiz?”
                Não me sinto leve como pensei que sentiria, não me sinto mais quente, não sinto nada.
                É só isso, é só o nada constante que tem sido minha vida, é só o nada que tem dentro de mim, o nada que me esfria, que me condena, que me amaldiçoa. A solidão que me cerca de todas as formas possíveis, e ninguém entende.
                Ninguém consegue sentir isto como eu o sinto, esse oco, essa casca vazia que afasta toda e qualquer chance de aproximação.
                Sentada, abandonada por minha própria vontade, enclausurada com a dor eu fico, passando pelos dias sem um propósito, sem algo para lutar a favor.
                Assim sigo com minha vida, não vivendo, apenas existindo com oco do nada que perpetua dentro de mim.