quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Another chance

                Um fim de tarde em frente ao mar, ela está sentada ao lado do garoto, e ele fita o mar inexpressivo.
                Ela sem conseguir se segurar observa seu rosto atentamente, admirando-o, tentando imaginar o que se passa em sua cabeça, mas assim que seus lábios rosados tremulam, ela soube.
                Ele sentia o olhar da garota queimar sob sua pele e lutava para não demonstrar nenhum de seus sentimentos, o que era inútil já que como ela mesma dizia, ele costumava ser um “livro aberto”.
                O garoto sentiu a mão pequena apertando a sua e suspirou. Aquele toque era como um alívio momentâneo, como se ele estivesse com algum tipo de dor sem perceber, e seu toque levasse tudo embora. Mas seu coração estava em outro lugar, perdido, e ele temia nunca mais encontrá-lo.
                - Está pensando nela de novo, não é? – sua voz soara compreensiva.
                Ele assentiu.
                Por mais que quisesse com todas as suas forças esquecer, não conseguia apagar de sua memória. Todas as tardes como esta em frente ao mar, todos os beijos, todas as juras inconfiáveis. Ele ainda estava aprendendo a lidar com isto, mas havia tomado uma decisão, que em sua opinião era até nobre.
                Não deveria usar a menina ao seu lado para esquecer outra, não deveria fazê-la infeliz, ele não queria ver aquele sorriso radiante se apagar aos poucos como o seu próprio se apagara, não era justo iludi-la mesmo que seu lado egoísta quisesse, ele não o faria.
                - Sabe a vida não é fácil, aquilo que você mais ama é o que te destrói – suas palavras eram suaves – e por mais que seja doloroso isto, sempre vai haver uma reconstrução, e você me contou tudo, desabafou e apesar de ser sobre outra garota eu fiquei feliz em te ouvir.
                Ela era mais, muito mais do que ele merecia, só desejava tê-la conhecido antes.
                - Por quê? – mantinha a voz baixa e embargada.
                - Por que você confia em mim – sussurrou – Nós dois temos nossas marcas, e por mais que elas sejam recentes ainda somos capazes de confiar e acho que isso tem que significar alguma coisa. Por que dois corações quebrados não poderiam se reestruturar juntos? Sei que acha que nunca mais será capaz de amar alguém, mas acredite em mim, eu sei que você pode.
                Ela observava seus olhos brilharem, iluminando seu dia tão nublado. Eram castanhos e tão profundos, agora mesmo ela podia perceber que o clichê dos olhos serem a janela da alma é verdadeiro, sentia que podia enxergar tudo o que se passava por dentro naquele olhar.
                Ele puxou a mão da garota sob a sua e a fez tocar seu peito, quase no centro, um pouco para esquerda e ela sentia seu coração acelerado.
                - Não tem nada aqui além disso – continuou pesaroso – você consegue sentir ele bater? Por que eu não, tudo que eu consigo sentir é a dor. Então o que te faz ter tanta certeza assim?
                A garota sabia que desde o começo ele não lhe iludira, e não havia contado uma só mentira também, se denominava uma causa perdida, mas aquele era o tipo exato de garoto para ela.
                Sim, assumia timidamente que tinha uma séria queda por casos perdidos.
                Deixando um pouco da sua timidez de lado, ela removeu sua mão e o envolveu com seus braços, encostou a cabeça naquele mesmo lugar e podia ouvir as batidas de seu coração.
                - Por que eu consegui – respondeu-lhe simplesmente.
                E toda resistência que ele lutara para construir acabou naquelas quatro palavras, agora com ela envolta em seus braços podia sentir seu corpo se aquecer, até mesmo a cor rosada de seu rosto voltar.
                Ambos sentiam algo estranho, envolvendo seus organismos e mexendo com seus sentimentos de uma forma desconhecida.
                E sentados naquele banco corroído pela maresia, ouvindo o som das ondas e de seus corações, a verdade os atingia, não seria como uma bela história de amor com um príncipe e uma princesa, não prometia um final feliz e nem juntos para sempre, apenas ficava a inconstância de dois corações partidos, que juntos regeneravam-se formando um só.
                Um recomeço, mais uma chance e assim o amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário